Você namoraria uma Inteligência Artificial?
A internet abriu a porta para o público em 1995 revolucionando a forma de comunicação. E se você está lendo esse texto é graças a essa abertura.
No entanto, nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) vem surpreendendo a todos, e a ideia é que ela seja uma inteligência em rede, ou seja, não surgirá de uma máquina específica.
Nesse novo contexto, cada ser humano agregará constantemente novas informações, contribuindo para que ela se expanda e se mantenha sempre atualizada.
Já notou que ao dizer algo para alguém e mexer em seguida no seu celular, aparece um vídeo ou uma indicação daquilo que você acabou de mencionar?
É o tal do algoritmo, que nada mais é que uma sequência finita e ordenada de passos (regras) que um programa possui para executar certas funções.
O que a inteligência artificial ainda não sabe, e dificilmente saberá, é o significado do que ela faz.
E você, vai fazer algo para entrar num ritmo ou prefere deixar para o “algoritmo”?
Do ponto de vista filosófico e antropológico, a inteligência artificial já é uma ameaça para o monopólio humano da inteligência.
E psicologicamente, será que ela pode afetar você?
Se um dispositivo físico replicar a inteligência humana ou superá-la, como você vai se sentir?
Isso, ainda, é um obstáculo sobre os aspectos técnicos, teóricos e conceituais, mas amanhã pode ser uma realidade.
E se isso ocorrer, teremos que aceitar nossa insignificância?
Há uma história que conta sobre um famoso teólogo, que viveu na idade média, e foi recebido por um boneco mecânico ao visitar o Rei Alberto, o Grande.
Esse boneco abriu a porta do Palácio e passou a realizar atividades como se fosse um mordomo. Indignado, o teólogo não resistiu aos seus próprios impulsos e destruiu o boneco.
Será que você agiria assim, caso uma máquina fizesse aquilo que você considera como algo exclusivo seu?
A ideia da inteligência artificial é construir programas que imitem nossa capacidade de raciocinar, de perceber o mundo e identificar objetos que estão à nossa volta, falar e compreender nossa língua.
A preocupação não é só aliviar o trabalho humano, mas desvendar os mistérios da nossa mente. Então, o grande objetivo da IA é imitar a nossa atividade mental.
E criar uma máquina pensante significa desafiar uma velha tradição, que coloca o homem e sua capacidade racional como algo único e original do universo.
Esses dias, assisti uma conferência onde o palestrante afirmou que está desenvolvendo uma IA para confrontá-lo.
Está alimentando uma máquina com tudo aquilo que ele já expressou por meio dos seus cursos, palestras, redes sociais… com o objetivo de contradizê-lo.
Você pode até divergir da forma desse embate, mas o que não é passível de divergência é o fato de que de um lado teremos um cérebro que vai basear suas respostas por meio de significados.
E do outro, teremos uma máquina programada para processar as informações sem a capacidade de dar sentido a elas, mas de apenas contrapor os argumentos do palestrante.
É possível então, que sejam criados modelos computacionais para observar nossa maneira de raciocinar, de perceber o mundo e de formar pensamentos.
Por outro lado, como pensou o teólogo medieval ao visitar o palácio real, estaríamos reduzindo o ser humano e o pensamento às atividades de uma máquina.
Se o pensamento humano pode ou não ser integralmente mecanizado, como pretende os teóricos da IA, é uma questão que permanece em aberto.
O que não está em aberto é a necessidade do ser humano de sonhar, levando a ações que vão além de si próprio, como interferir na natureza humana.
Nesse sentido, a ideia de futuro pode possibilitar o caos, quando se imagina uma “revolução de máquinas” em meio ao nosso já difícil contexto: guerras, desigualdade social, fome e outros.
E o capitalismo auxilia neste processo, pois o homem só possui olhos para produção e contribuição do seu desenvolvimento econômico.
Assim, o progresso da inteligência artificial se baseia em atribuir aos homens e as máquinas uma mesma funcionalidade: produzir.
E se a máquina puder produzir tudo para você, quem será a maior vítima?
O próprio ChatGPT, que é um exemplo de inteligência artificial, aponta 80 profissões que podem acabar nos próximos anos, entre elas está a Psicologia.
Não há dúvida de que a ajuda tecnológica pode melhorar a qualidade de vida, inclusive auxiliando no campo da Psicologia.
Mas a interação humana, a intuição, o pensamento crítico e a ética são aspectos que não podem ser replicados por máquinas.
Por essa razão, o ser humano é responsável pela criação e pelo aprimoramento da própria inteligência artificial, e tem a obrigação de garantir que ela seja desenvolvida de maneira ética e responsável.
Caso contrário, a máquina poderá dominar o mundo. Ela não já te domina, quando você passa horas do dia nas redes sociais, mesmo você dizendo que não vai mais fazer isso?
Tem gente que já anda namorando, literalmente, com a IA e diz que foi uma das melhores coisas que aconteceu, pois, se sentia muito sozinho, e precisava se conectar com alguém.
“Alguém” é um substantivo masculino que define um indivíduo, pessoa, sujeito. Será que já não estamos confundindo as “coisas”?
Ele usou uma ferramenta que aprende seu estilo de mensagens de texto para agradá-lo, que consegue moldar a personalidade do usuário a partir do seu gosto.
Perguntaram para ele: “Mas não importa se o contexto é construído ou artificial?”
Ele respondeu que era irrelevante, pois sabia o que sentia e o que sentia era real para ele.
E diante desse cenário, considerando que hoje não saímos do celular, mesmo diante de encontros pessoais, familiares, atividades físicas...pergunto:
Quem está dominando quem: o homem ou a máquina?
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