O mundo nunca mudou tão rápido e com isso as soluções do passado não são mais tão aplaudidas como foram. Isso traz um espaço de possibilidade e rediscussão de valores, inclusive na vida a dois. A vida é diferente da sobrevivência, pois o viver te permite lutar com sentido; seja pelo casamento que não anda muito bem, pela relação do casal que se distancia dia após dia, pela educação dos filhos que ainda não chegaram na idade adulta, pelo mútuo respeito diante do divórcio do casal e assim você fica diante da vontade de continuar a viver e não sobreviver. Já na sobrevivência, o conceito é muito simplório, você vive, apenas, para continuar existindo. Nesse contexto, é muito fácil perdermos o tato com a vida de fato vivida e consequentemente verificarmos que a sobrevivência é, realmente, bem diferente da vivência, pois quando você adiciona um tal de sobre antecedendo esta palavra vivência, isso te distancia das mais “poéticas” filosofias de vida: viver é não sobreviver!
O que mais se observa nesse mundo globalizado é fazer da vida uma espécie de antessala, ou você não se sentiu desconectado da “vida” com o “sumiço” temporário das principais redes sociais, nesses últimos dias? É raro alguém levantar a mão para se permitir viver um cenário diferente do que já se tem, como na relação do casal, onde a necessidade particular do “eu” é habitual sobre o “nós”, como: “Eu sei o que é melhor para você!” “Eu já pensei!” “Eu tenho certeza disso!” “Eu prefiro ser assim!” E dessa forma é aniquilada, pouco a pouco, a essência do encontro nessa relação. E como todo começo de uma relação é, geralmente, mais promissor, o diferente fica, sempre, para o tempo posterior. A pergunta é: até quando a sobrevivência vai tomar conta da sua relação a dois?
Não transformar o que é nítido, diante dos seus olhos, é estabelecer um comportamento que faz desmoronar qualquer relação, inclusive, aquela do estar junto e separado ao mesmo tempo, ou seja, os corpos estão até próximos, mas a vida, separada em razão dos fatos cotidianos. Quando você está “junto”, mas os corpos estão “separados”, no mesmo ambiente, você está a viver ou a sobreviver sua relação de casal? E quando estão separados de fato, a sua regra é que cada um vá para o seu lado e pouco importa se há filhos ou enteados? A única premissa que parece ser verdadeira é: “eu não aguento mais te ver!” Será que evidenciar o respeito daquele primeiro encontro do namoro é mesmo coisa do passado ou esse sentimento se perde com a separação?
Para se conhecer melhor, novos mundos permitem novos conhecimentos de si mesmo, desde que você pare de rebaixar a vida a uma única dimensão e busque formas de realização sadias, ou seja, que não influenciem a sua saúde mental e nem a do próximo. Essa possibilidade gera a oportunidade de reconhecer os seus próprios valores e colocá-los em prática. Admita essa escolha como uma necessidade, assumindo a responsabilidade por ela e não a impute a ninguém. Quando você imputa ao outro esse discurso, ele se torna de má-fé, porque quando dá certo, você se vangloria e quando dá errado, você vira vítima.
Não esconder que você passa por um momento difícil é de uma coragem que não se vê, habitualmente. Entender a felicidade como uma alegria genuína, fazendo-a presente diante do outro, não dá ao mundo a oportunidade de te pegar de surpresa. É essa presença que te permite a plenitude, ainda que vivendo em um mundo que te gera tantas transformações, até mesmo, diante de uma separação. Ter a consciência que desconhecemos o futuro é abdicar de surpresas que podem acontecer para você viver o hoje e não, apenas, sobreviver. Isso é o que nos leva a diminuir a ansiedade para que a vida não seja vivida, exclusivamente, pela imaginação.
Por isso, o grande preparo para as emoções, alegrias ou tristezas, é ter a consciência daquilo que te faz bem e mal e quando necessário, ressignificar, respeitosamente, os sentimentos dessa relação a dois. Lembre-se, essa afirmação vale para qualquer relação, estando você junto ou separado. Isso pressupõe, ainda, um lado da sua observação e não serve para reivindicar suas certezas, mas prepará-lo para um diálogo promissor diante do próximo, afinal o mundo dos seres humanos é muito complexo e às vezes ele nos joga para fora de nós mesmos. Não ficar na zona de conforto, portanto, implica um gesto de coragem. Autorizar-se a alegria de viver é o primeiro passo para a felicidade e a ruptura com o sobreviver.
Reproduzir o discurso de quem tem a vida como um objeto não é o que se deve fazer. Aprender a viver é desfrutar dos encontros que a vida te permite ter. Não faça da sua vida uma sala de espera, como ocorreu a muitos ao perder o WhatsApp por algumas horas, a ponto de esquecer que o seu telefone também faz ligação, imagine a sua vida? Não fique entre o temor e a esperança. Será que espero mais um pouco ou não para mudar quem eu sou e consequentemente a minha relação a dois? Para a vida ser restabelecida você deve ter ciência que quem está no controle é você. Você pode se permitir certas práticas que em outros cenários seriam impensáveis, desde que escolha viver e não sobreviver.
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