Você conhece a educação política?
Nosso processo eleitoral é considerado um dos mais universais do mundo, pois garante que os cidadãos com mais de 18 anos e menos de 70 anos votem.
Noberto Bobbio, filósofo político, disse que “a educação política é uma das promessas não cumpridas pela democracia.”
“Por que?”
Porque, para isso acontecer, é necessário lidar com os desafios qualitativos da política, ou seja, não basta apenas escolher “A” ou “B”, em razão do caminho “X” ou “Y”.
Não é só assim que funciona. Em tese, é preciso também qualificar as pessoas para realizarem uma escolha.
“Como assim?”
Qualificando a reflexão desses indivíduos para a melhor tomada de decisão. E esta não está ligada aos seus interesses pessoais. Longe disso!
Mas sim, observando as diferentes visões de mundo. E esse termo, deve ser entendido como a lente que o indivíduo utiliza para enxergar, interpretar e se relacionar com esse mundo.
“Pode exemplificar?”
Observe que a região nordeste tem um problema social histórico, relacionado a defasagem e pouca diversificação da agricultura e indústria, agravado pela seca.
E em razão disso, cria-se um estereótipo sobre a população nordestina, estimulando preconceitos e discriminações de todos os tipos.
A mais comum, é uma visão muito simplista da realidade, porque o Nordeste não é só seca, mas diversidade.
Para você ter uma ideia, nessa região há grandes variações climáticas, naturais, econômicas, sociais e étnicas, representando enormes riquezas naturais e humanas.
No entanto, o que se dimensiona, exageradamente, é o viés político, pois se esconde a informação que este déficit hídrico engloba apenas uma parte de toda a região nordestina.
Você sabia dessa informação?
Portanto, a finalidade dessa omissão pode ter um objetivo, focar na indústria dos votos. Isto é “politicar”, ou seja, fazer política, e não politizar, que é compreender a importância do pensamento e da política.
Assim, os políticos escondem informações, e se beneficiam das condições de miséria de parte da população, para lhe conceder bens materiais em troca de voto.
“Mas, será que só a região nordeste passa por esse tipo de problema no Brasil?”
“E aquele que é bem-sucedido e exerce seu direito de voto com o intuito de se beneficiar, não age igualmente ao que passa fome?”
É por isso, que não nos surpreende que haja carência de educação política em um país com graves problemas na educação básica.
Assim, se faz necessário discutir, ensinar e aprender em relação à educação política nas escolas. Para que assim possamos exercer melhor nossa democracia.
E o conceito de democracia nos dicionários comuns, de uma forma geral, traz a seguinte definição: “governo do povo, pelo povo e para o povo.”
A expressão “do povo”, traz a conotação de posse. Já o “pelo povo”, no sentido de agente que toma a atitude, aquele que age.
Então podemos concluir que, a democracia nos pertence e atuamos sobre ela, tendo também como destinatário, nós mesmos.
Mas observe, que esse entendimento é no plural, “nos pertence”, no sentido do povo e não no singular, “me pertence”, no sentido do “eu”, ou seria, “doeu”?
“E quem é esse povo?”
“E o que você quer dizer com “doeu”?
Em relação a sua primeira pergunta, a resposta é: depende da sociedade em que se vive!
No Brasil, por exemplo, o acesso das mulheres como eleitoras se deu a partir de 1932, os indígenas votam, e os analfabetos, após mais de um século sem poder votar, retomaram seu direito, a partir de 1985.
A Constituição de 1988, traz o voto facultativo para os jovens de 16 anos. E na maioria dos países do mundo, não encontramos essa peculiaridade do exercício da cidadania nessa idade.
Observamos assim, que a ideia de povo depende da sociedade, no tempo e no instante, pois como observado, o direito ao voto nem sempre foi amplo.
Portanto, a dimensão de povo, depende das decisões de um país, que pretendendo ser democrático, estabelece esse direito ao voto direto e secreto, com valor igual para todos.
“Então, o poder emana do povo?”
Sim!
Na democracia representativa é o povo que delega o seu poder de decisão a outras pessoas que tomarão as decisões por ele.
E essa cidadania é exercida através do voto universal, quando todo e qualquer cidadão tem o direito de votar, independentemente de gênero, cor, credo, “idade” e escolaridade.
“Então devemos respeitar a decisão da maioria, visto que o direito ao voto é um instrumento de valorização da cidadania.”
Isso é democracia!
“Mas, por que muitos colocam a culpa numa determinada região, como no Nordeste, em caso de derrota do partido “A"?
O Brasil vive um dos momentos mais intensos da política, com grande participação popular, por meio das redes sociais.
E a cada minuto fica mais evidente a polarização dos usuários defendendo o partido “A” ou “B”, o que acaba sendo um dos pontos determinantes para o preconceito nordestino ganhe alcance.
E isso não é de agora, em 2014 também foi assim. As pessoas passam a se posicionar, conforme o que está mais alinhado com a sua forma de pensar. Lembra da visão de mundo?
“Compreendi! E em relação a minha segunda pergunta: o que você quer dizer com a expressão “doeu”?”
É em razão dessa polarização, reforçada pelas postagens alinhadas com a forma de pensar, que as discussões colocam em risco amizades e brigas em família.
E quando o foco passa a ser uma visão de mundo, o outro eleitor não tem o seu direito de escolha respeitado.
“Você não sabe escolher, é um alienado!”
Dessa forma, o exercício do direito ao voto se torna uma dor para famílias, amigos, parentes, conhecidos, ao ponto de se criar desavenças e inimizades entre eles.
“Então, nesse caso, a luta é pelo exercício da democracia, porque não se respeita o direito de escolha.”
Pois é!
Blaise Pascal, matemático e filósofo francês já dizia: “a consciência é o melhor livro de moral e o que menos se consulta.”
Compreende?
Dr. Michel Bezerra parabéns pela reflexão! Muito oportuna no momento em que estamos vivendo.