Você sabe dialogar sobre uma escolha profissional?
Se você já leu meu texto sobre o Amor, vai lembrar que Platão gostava de produzir filosofia através de diálogos.
E ressaltei, naquela oportunidade, que o diálogo pode te ajudar a encontrar saídas para assuntos que até mesmo você duvida.
“Amor, fale com a sua filha. Eu não consigo falar a mesma língua que ela. Não entendo, por que ela não quer assumir a nossa empresa no futuro?”
Devemos estar atentos para o fato de que alguma palavra utilizada, pode não ter o mesmo significado para ambos os interlocutores.
“Pai, se eu assumir a sua empresa, eu morro!”
Ao escutar uma coisa dessas nessa situação, você pode concordar ou discordar do interlocutor, quando, na verdade, sequer houve comunicação.
Esse cuidado com o significado dos termos que você utiliza, traz maior clareza para a conversa, em qualquer sentido, e não apenas a clareza gramatical.
“Você observou que eu e minha filha não possuímos a mesma visão profissional, pois ela prefere morrer do que assumir a empresa, então pra quê o diálogo?”
Acho que você não ouviu o que sua filha disse. E é importante escutar o que se tem a dizer, para compreendermos aquele que pensa diferente de nós.
Você não faz isso com a concorrência da sua empresa, para entender o mercado?
É a partir dessa escuta, que você pode abrir a sua mente, ampliando assim os seus horizontes, independentemente de concordar ou não com o que ela pensa.
A disposição para o diálogo se faz necessária por uma razão simples: o olhar de cada um sobre o objeto discutido, poderá ser outro.
Se o Umbandista e o Psicólogo observarem a mesma sessão de um médium, vivenciando uma incorporação, talvez o Psicólogo afirme que é o inconsciente e o Umbandista que é a entidade.
Observamos então, que quando os interlocutores são representantes de diferentes construções, o objeto discutido poderá ser essencialmente diferente.
Então concluímos, que o desafio para que a comunicação verdadeira ocorra, requer não somente o cuidado com os termos utilizados, mas um esforço para compreender o que outro diz, sob a perspectiva dele.
“Mas eu compreendo cada palavra que ela me fala, só não concordo com esse desejo.”
Será isso mesmo?
Mesmo dominando os termos utilizados, no sentindo “dicionaresco” das palavras, o que está em questão, reitero, é a compreensão do que o outro diz.
O esforço em prol da mútua compreensão, muitas vezes, é minado por diversas circunstâncias, entre elas, as nossas verdades.
Às vezes, estamos tão interessados em defender, proteger um bem que consideramos precioso, as ideias e visões que apoiaram nossa trajetória, que esquecemos do verdadeiro diálogo.
E quando optamos por desconsiderar as disputas de poder, vaidade ou oportunismo, será possível analisar o que o outro está dizendo.
Assim, o dever de casa passa a ser compreender, adequadamente, as ideias propostas pelo interlocutor, ou seja, a maneira como ele as vê.
Você já leu o texto sobre: “o diálogo confuso” de Germano Correia da Silva?
“Um passageiro que viajava num ônibus lotado, perguntou:
- Motorista, este ônibus vai virar na próxima saída à direita?
O motorista respondeu calmamente:
- Tomara que não.
O passageiro insistiu:
- E na outra saída, mais adiante?
O motorista, já um pouco nervoso, resmungou:
- Deus queira que não.
O passageiro, já meio impaciente e sem entender as respostas do motorista, abriu o verbo:
- Que motorista é o senhor que não sabe onde o ônibus que está conduzindo vai virar?
O motorista levou o ônibus para o acostamento, puxou o freio de mão e respondeu:
- O senhor acha que se eu soubesse onde ele vai virar, eu ainda estaria aqui sentado ao volante, tranquilo da vida, sem avisar os passageiros que estão dentro dele do perigo que estaria para acontecer?”
Nesse pequeno diálogo, confuso, de quem é a responsabilidade para achar a saída?
É preciso chamar a atenção para um aspecto do diálogo da escolha profissional, o da responsabilidade.
“Meu desejo é apenas mostrar um caminho para a profissão do meu filho.”
E por que toda vez que ele pergunta, se deve seguir outro caminho, você fica impaciente?
Você pode até mostrar essa escolha para ele, mas não se exima da responsabilidade, se dessa amostra, virar uma imposição, e ele fracassar profissionalmente, por você não o ter escutado.
Não seria uma incoerência, para quem quer conduzir o “veículo” do diálogo, de uma escolha profissional, deixar de escutar o interessado?
Por fim, como observamos no “diálogo confuso”, os perigos da vida não possuem pré-avisos. Mas um bom diálogo, sem imposições, pode salvar vidas.
A jornada da compreensão, por meio do diálogo, é uma das maiores fontes de alegria da vida humana. Não é a única, nem a mais importante.
É trabalhosa e cheia de armadilhas, mas é linda, se houver escuta.
Quer investir em algo para sua maior “empresa” chamada família?
Dialogue consigo e com o outro, sem buscar ser o dono da razão, e você terá respostas inimagináveis.
Bons diálogos!
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